domingo, 13 de março de 2016

Iluminação noturna baseada em bactérias bioluminescentes? É o que propõe uma empresa francesa


A bioluminescência é o fenômeno de produção de luz por seres vivos, resultante de reações químicas. O exemplo mais conhecido é, certamente, a luz emitida pelos vaga-lumes. Mas a bioluminescência ocorre em muitos outros organismos, tais como algas, moluscos, peixes e crustáceos.

Uma starup francesa, a Glowee, está propondo a utilização de bactérias bioluminescentes como fonte de iluminação noturna. A vantagem seria o consumo nulo de energia elétrica e a não geração de poluição luminosa, segundo a visão do grupo de jovens empreendedores. A ideia da tecnologia proposta pela Glowee nasceu em um concurso universitário e seu desenvolvimento inicial foi possível graças a uma ação de financiamento coletivo.

A Glowee cultiva as bactérias bioluminescentes Aliivibrio fischeri, extraídas de lulas, em um suporte transparente que pode ser criado em qualquer formato. No interior do suporte é inserido um gel com nutrientes para a manutenção da vida daquelas bactérias. A iluminação só é percebida durante a noite (ou no escuro, claro), com o suporte permanecendo transparente durante o dia. É o que ilustra a figura abaixo.

Durante o dia, o produto criado pela Glowee permanece transparente. Durante a noite, observa-se a luz produzida pelas bactérias. Captura de tela de um dos vídeos de divulgação do projeto (assista no final deste post).


O maior problema da nova tecnologia, do ponto de vista de sua viabilidade comercial, é o tempo de vida. O primeiro produto oferecido pela companhia é uma fonte de luz que dura três dias. Pesquisas estão sendo realizadas para aumentar a duração da fonte de luz. Até 2017, a expectativa é que a o produto forneça luz ao menos por um mês, o que o tornaria competitivo para a iluminação de vitrines nas lojas de rua, por exemplo. As bactérias estariam sendo geneticamente modificadas para aumentar o seu brilho e a sobrevivência em caso de maiores variações de temperatura.

Um dos incentivos para investir nesta nova tecnologia de iluminação é a legislação em vigor desde 2013 na França, que limita o uso da luz artificial durante a noite, exigindo que vitrines e prédios comerciais de maneira geral desliguem suas luzes externas a partir da 1:00 h da madrugada para economizar energia elétrica e diminuir a poluição luminosa. O produto da Glowee seria uma maneira de burlar a lei. Mas, por qual razão, se a legislação francesa estabelece o óbvio: luzes desligadas quando e onde não há circulação de pessoas?

Concepção artística das possibilidades de utilização da nova tecnologia. A luz bioluminescente seria usada para sinalização pública, iluminação de propagandas, vitrines e decoração de prédios. Imagens de divulgação, obtidas na página da Glowee.


A nova tecnologia serviria como opção sustentável para manter as cidades seguras e sustentáveis ou só seria uma maneira para continuar utilizando a luz inutilmente? Mesmo sem gastar energia elétrica, a fonte de luz continuaria impactando no ciclo circadiano humano, dos insetos, das aves, das plantas... Para manipular qualquer forma de vida e condicioná-la a viver fora daquele que seria o seu ciclo natural, tal como esta sendo feito com as bactérias bioluminescentes, é preciso uma necessidade real. Não deveria bastar o capricho humano... Os próximos anos saberemos se há, de fato, um nicho de mercado para esta nova forma de iluminar.

A utilização de sensores de presença para acionamento de luzes, o investimento em desenvolver matrizes energéticas variadas e sustentáveis, a utilização de filtros em lâmpadas LED, ou a criação destas lâmpadas simulando o rendimento de cor das lâmpadas de vapor de sódio: estes parecem ser caminhos mais razoáveis para criar um sistema de iluminação racionalizado, que minimize a poluição luminosa e os impactos da luz artificial no meio ambiente.

Assista abaixo aos vídeos de apresentação da Glowee (o primeiro em inglês; o segundo em francês, com legendas em inglês).





Update em 25/03/2016: A bioluminescência tem papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas e esta é uma das razões pela qual pode ser questionável manipular bactérias para que elas produzam luz visando satisfazer nosso anseio por iluminação decorativa.  Os vaga-lumes, por exemplo, possuem toda uma rede de comunicação entre si baseada no padrão de suas luzes. O vídeo abaixo, produzido por Harun Mehmedinović, traz um belo exemplo. Ele mostra o registro das luzes sincronizadas durante a temporada de reprodução da espécie Photinus carolinus, que ocorre entre maio e junho no Hemisfério Norte. As imagens foram feitas em Elkmont, cidade abandonada no território do Parque Nacional Great Smoky Mountains, nos Estados Unidos.




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Página de notícias sobre Poluição Luminosa (PL), mantida pela astrofísica Tânia Dominici.

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